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Sobre o luto e a empatia


Por que nos abala tanto perder quem nunca conhecemos?



A morte de alguém que admiramos, mesmo que nunca tenha nos conhecido, pode nos atingir com força. É um tipo de luto silencioso, quase clandestino, que a gente tenta racionalizar: “Mas eu nem conhecia essa pessoa pessoalmente...”. Ainda assim, o nó na garganta vem, o pensamento insiste, o vazio aparece.


Vivemos numa era em que a proximidade deixou de depender da presença física. Seguimos pessoas, ouvimos suas vozes em vídeos, lemos seus textos como quem compartilha uma mesa de café. A intimidade digital, ainda que unidirecional, nos conecta emocionalmente. Não é sobre contato direto, é sobre impacto.


Quando alguém que admiramos parte, principalmente figuras que nos inspiram, como professores, artistas ou profissionais que representam algo maior que si mesmos — sentimos como se uma parte do que acreditávamos também partisse.

E quando a causa da morte não é revelada, ainda mais no caso de alguém da área da saúde mental, surgem especulações que nos forçam a encarar tabus: “Mas psicólogos também sofrem? Médicos adoecem?”, “Quem cuida também precisa de cuidado?”


A resposta é sim. Todos precisamos sermos cuidados.


Sentimos por quem não conhecemos porque, de certa forma, conhecemos. Nos afeiçoamos à ideia que temos daquela pessoa, ao que ela nos proporcionou, ao quanto ela nos representou. Em um mundo hiperconectado, vínculos emocionais são criados com base em presença simbólica — e isso tem um peso real.


A empatia não pede carteira de identidade. A tristeza não exige vínculo direto. O ser humano é, por essência, social e sensível ao outro. E talvez o que mais doa seja justamente essa identificação: perceber que até quem parecia forte, seguro e brilhante, também era humano, também tinha suas dores, suas fragilidades e que também não era eterno.


Nos abalamos porque perdemos referências. Perdemos alguém que, mesmo de longe, fazia diferença no nosso dia. E tudo bem. Não é exagero, não é drama, não é "bobeira de internet". É só o coração reconhecendo o valor de uma conexão — mesmo que virtual.



O psicólogo Bruno Soalheiro, é uma referência na busca por uma psicologia acessível e descomplicada. Sentiremos sua falta!

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